sábado, 4 de julho de 2020

Teresa Evaristo e o serviço público (a propósito do portal das matrículas)

Conheço a Teresa Evaristo há já alguns anos. Poucas horas de interacção, fundamentalmente em contexto profissional, mas rapidamente horas animadas de uma sensação de privilégio; a Teresa cedo me mostrou traços que defino como os que mais importantes num profissional bom, uma pessoa boa: frontalidade, rigor, simplicidade, discrição, ambição, exigência.



Estas linhas definem uma executiva que há vários anos, sob a orientação de governos de sensibilidades políticas diferentes, vem, com as suas equipas, trazendo a administração pública para onde todos a queremos ter - mais simples, eficaz, correta - numa área muito importante e muito difícil, a da educação.

Hoje de manhã realizei a inscrição do meu filho no 10º ano, com uma transferência de escola do ensino público para o ensino particular, pelo meio. Tudo demorou menos de 10 minutos, num único site, com integração impecável das minhas credenciais das finanças, vários acessos combinados, e a leitura automática do seu cartão de cidadão, invocando-se várias bases de dados de forma ergonómica impecável e rápida. Mesmo muito bom.

Não sou especialista na análise comparada, mas arrisco dizer que não haverá muitos países que tenham um sistema como o nosso a este respeito. Nos últimos dias, vi críticas várias sobre indisponibilidades ou intermitências do sistema. Gostava que as pessoas pensassem no contexto imediato e na estrutura em que tudo isto é feito (dimensão, complexidade, rigidez, limitações externas e internas...) e depois reponderassem e ensaiassem uma crítica construtiva, que motivasse, que exigisse, apoiando, valorizando, puxando para cima, porque o plano inclinado tem sempre, sempre dois sentidos.

Na Administração Pública de Portugal, nos últimos 15 anos, fizeram-se muitos investimentos em tecnologias, alguns investimentos em processos e menos, muito menos investimentos, em competências nestas áreas. E mesmo assim, são as pessoas, sempre as pessoas, que fazem a diferença. E esta circunstância é, em momentos como este, ainda mais relevante. Vale a pena pensar nisso.

Obrigado a todos, na pessoa da Teresa, pelo conforto que foi fazer uma inscrição a um Sábado de manhã, em 10 minutos, em casa. Obrigado a todos, na pessoa da Teresa, por tentarem, todos os dias, um Portugal um pouco melhor.

domingo, 10 de maio de 2020

João

Dizer bem é dizer "coisas bonitas", mesmo nos momentos em que é muito difícil dizer coisas, como agora.

Devia ser óbvio dizer bem de um irmão. E devia ser óbvio dizer muitas vezes bem de um irmão. Nem sempre se faz o que é óbvio fazer-se. Corrijo isso hoje, sendo essa a primeira aprendizagem que o João certamente estará a propor; fazer o bem, antes mais cedo do que mais tarde.

Que todos os outros oferentes me perdoem, mas o João foi a primeira grande prenda que recebi. Prenda que pedi, que tanto pedi para chegar. E chegou.

O João foi meu companheiro de quarto nos seus primeiros dezoito anos de vida. Dezoito anos, milhares e milhares de noites, desabafos, segredos, espuma, substância, risos, descobertas, crescimento e vida, no fim de contas. Cedo me apercebi de que éramos uma equipa forte, que funcionava, e funcionava bem, com muita aprendizagem recíproca. Segunda lição que aqui registo do João: aprender com todos, sempre.

O último tempo desse convívio de casa foi mais exigente para todos, mas também dessa condição resultaram lições, mais difíceis de aqui enunciar, mas pelas quais também devo agradecer-te, João.

E depois a família estendeu-se do meu lado e o João começou a estar menos tempo por perto, viajando, estudando, trabalhando, fazendo o seu caminho. Quando estava disponível, a maior lição era mesmo a do sorriso autêntico, que a foto deixa transparecer. Terceira lição, síntese de tantas outras, mas sempre em volta disto: o bem, sempre o bem.

O João gosta muito da cidade que o viu nascer, Setúbal, e do rio que a adorna, o Sado. Junto-os, que combinados ainda mais bonitos ficam.

Em 2014, quando iniciei este blog, o João apreciou muito a iniciativa. Perdoa-me, João, se demorei a aqui vir "dizer bem" de ti. Sei que sim, que me perdoas e me continuas a sorrir. Obrigado por isso. Obrigado por tudo. Até já, João.