“A música é o vínculo que une a vida do espírito à
vida dos sentidos. A melodia é a vida sensível da poesia.” É uma frase
atribuída a um dos pais fundadores da música dita clássica, Beethoven. É também
a primeira de várias citações que percorrem o site da escola de música DámSom, versão mais recente da escola que
a Anabela Oliveira fundou em 1979, no bairro do Montebelo, onde cresci, em
Setúbal.
Fui aluno da escola da Anabela (era assim que lhe
chamávamos) de 1983 a 1994, estudando órgão mais de 10 anos, adicionando-lhe a
aprendizagem do acordeão durante quase metade desse tempo.
E nunca mais me desliguei da Anabela, até hoje, 40
anos depois. Na escola da Anabela, encontrei o complemento certo das outras escolas
que frequentei naquele tempo; ali havia a aprendizagem de instrumentos
musicais, de dinâmicas artísticas de conjunto, de conhecimento teórico sobre a
história da música e a sua técnica. Tão ou mais importante que tudo isso, ali
houve sempre amizade, apoio e muito boa disposição. Ali fiz amigos para a vida,
gente que seguiu caminhos aparentemente diversos, mas que acabou por ficar
próxima, com a música e a escola da Anabela como elos simples e fortes, muito
fortes.
A Anabela enfrenta um problema muito grave de visão
que, desde há uns anos, lhe vem alterando, de forma significativa, muitas das
suas rotinas. Mas a sua escola, essa, mantém-se, com ela própria ao leme, de
portas abertas, evoluindo, com mais ofertas de aprendizagem, servindo a
comunidade, influenciando-a, fazendo-a um sítio melhor, ilustrando bem a ideia
de Nietzsche de que “… sem a música, a vida seria um erro”.
A Anabela cedo percebeu da importância de uma
equipa. Teve, ela, o privilégio de encontrar, pouco depois da abertura da
escola, um aluno brilhante e um ser humano único, o Nuno Alves Gralheira, que
pouco tempo depois decidiria orientar toda a sua vida em torno da música e, em
particular, do acordeão, instrumento que, na sua juventude, o levou a disputar
galardões de nível mundial. O Nuno, sim, o Nuno da Anabela, seu braço direito de
há muitos anos, a quem tanto, mas tanto, devemos. Como também devemos à Florbela,
outra aluna destacada daquela vaga única dos anos 80, que, mais recentemente,
ajustou a sua vida profissional para apoiar a Anabela nalgumas das suas exigentes
frentes de professora e diretora da escola. Gente inspiradora, esta, amigos extraordinários!
A Anabela e o Nuno têm desafiado um grupo de
antigos alunos, em que me insiro, para continuar a tocar num agrupamento de
acordeões de vez em quando, preparando umas peças para apresentar nas audições
anuais. Tem-se revelado uma fórmula fantástica de preservação da amizade, da
boa disposição, que atrás referi… e acaba por ser também um fantástico elixir
da juventude!
Ontem decorreu mais uma audição e lá estivemos, a
saborear as coisas boas da vida.
Obrigado, Anabela.